O
silêncio é o som mais grave que já ouvi nesta vida tão breve. O silêncio
deixa-me desconfortável em minhas roupas e me pede ansiosamente pelo grito
contido, preso na garganta. A voz que se cala ali é sentida com aperto aqui. Não compreendo
a sua escassez, não entendo as monossílabas que formam-se nos seus lábios tão
finos, assim como os meus. Parece até que você inventou um vocabulário só seu e
eu não sei decodificar. É irônico pensar que eu, formada em Letras, apaixonada por
tudo o que envolve palavras, conviva tanto tempo com a ausência delas – e isto me consome de tal
forma, que quando dialogo com alguém, por vezes gaguejo e troco a ordem
sintática da oração. Sinto-me mal quando isso acontece. Sinto mal quando vejo
uma pessoa esforçando-se para falar com você, recebendo em troca o oposto da atenção.
Sinto-me mal quando você não levanta os olhos enquanto passamos; parece até que
a linguagem corporal também foi prejudicada durante algum processo que não
acompanhei e não entendi, mas que deixou você assim. Sobretudo, sinto-me
incomodada, irritada, porque nos raros momentos em que você fala, sua voz sai
prepotente e alta. Quando contínua, não posso evitar pensar que seria melhor
voltarmos ao vazio do silêncio. Vivo neste dilema, vivo neste conflito que você
criou para si, mas que também me afeta. Vivo tentando compreender o seu mundo e
aceita-lo. Vivo tentando fazer parte do seu inteiro – e enquanto isso não
acontece, vou me dividindo em silêncios, até um dia, por fim, perder a voz.
Amei o texto!
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