A poucos dias do Natal de 1979, Marcelo Rubens Paiva - estudante de Engenharia Agrícola da Unicamp e filho do ex-deputado federal Rubens Paiva, vê sua vida inteira mudar em questão de segundos: ao mergulhar no estilo Tio Patinhas num lago raso, Marcelo quebra uma vértebra e perde os movimentos do corpo. O autor, então, propõe-se a contar como foram os dias na UTI, a sua recuperação lenta e dolorosa, assim como a aceitação de sua nova realidade.
"Meu futuro é uma quantidade infinita de incertezas. Não sei como vou estar fisicamente, não sei como irei ganhar a vida e não estou a fim de passar nenhuma lição. (...) Aconteceu comigo. Injustamente, mas aconteceu. É foda, mas que jeito..." (Página 267).
No decorrer da narrativa, conhecemos um pouco mais o Marcelo antes do acidente - sua vida em Campinas, as festas que frequentava, os amigos e os romances que teve e que fizeram parte de sua trajetória. Também conhecemos a sua infância, marcada pela triste lembrança do dia em que seu pai "desapareceu", no período em que se configurou a Ditadura Militar no Brasil.
"Você já imaginou uma mãe de cinco crianças ter a sua casa invadida por soldados armados com metralhadoras, levarem seu marido sem nenhuma explicação e desaparecerem com ele?" (Página 40).
Apesar do tema trágico, o texto é carregado de humor e de irreverência, o que fez com que eu, como leitora, quisesse devorar o livro em poucos dias. Além disso, é perceptível o amadurecimento de Marcelo nas últimas páginas.
Não costumo ler autobiografias, porém essa me chamou muita a atenção. Seus medos, suas angústias e suas dores foram compartilhadas como se o autor conversasse com amigos próximos. Dá até uma saudade do personagem, porque a impressão que tive é a de que o conhecia.
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